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quarta-feira, 28 de maio de 2008

In memoriam a H. Dobal

"Nestes sertões jaz o homem[...]"
homem este que muito lutara como que por costume,
preponderantemente por sua gente, dolente, inocente.

Homem que cedo, cedo teve de se virar por si só
estudos bancários sem aquela educação contabilizada e abstrativa:
em contrapartida à vida gregária de trabalhador, uma emoção solidária e realizante

mesmo na imensa nova cap Brasília lembrava-se dos seus
em pesar com "as obras de arte do DNOCS" , inacabadas e infindas,
ainda tão consentâneas, tão contemporâneas...

Nestes ermos campesinos fatos
sua enxada fora a caneta
sua eira o livro por escrito ser
sua lavoura a poesia linda dos campos maiores
suas flores alguns professores-cultores andantes cavaleiros abrasileirando-nos
seus frutos a mocidade sóbria e - contudo - efêmera, queda inerte, extática, silente, passional e impotente.

Queria e tanto e quanto eu ter sido semente
mas minhas terras, sob as unhas de pouco estudo
e meu gado, do qual sou rês rebenta
quase não tem berrado, entanguido e curtido in vivo
sigo oprimido, na luneta do criador, do tempo inconseqüente
dele que me ampara mesmo eu aflito
num turbilhão de pó e brasa
enfileirado junto a outras cabeças de criação
carne pútrefa de medo, de abominação
ante as feras, mundo afora, livra-te delas!

H.Dobal: tua vida fora precisa
teu com-passo seguro
sua saúde agressiva
seu morbifúndio, prematuro

ah, vida escalabrosa
que por nós tão misteriosa segues
leito de rio intermitente
cova de chã nordeste
primícias de chuva celeste
um pingo neste solo, empreste!

Aos poetas, órfãos e recém-chegad@s
meu aviso, em poente e burlesco cumprimento:
do que se foi, do que se vai
ancora e finca pilastra para tua construção
recobre e sustém teu legado no de outrem de razão
pois o relevo e a obra, car@s, não se sabe até quando estão.

João Paulo Santos Mourão
nesta data.

[perdoa, mestre, as incontinências aqui desenhadas
mas teu cajado, por tua gleba, por teu cercado
hemos nós muito ciscado e repisado
na humílima tentativa de ter - como tu - acertado o passo
rumo à uma poesia prosada, de gente pra gente contada, sem mais mentira nem nada.]





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Um comentário:

Kadja Ravena disse...

Fez-me chorar...