Caro Torquato V
A descapitalização e o isolamento
na quarentena são o remédio que a sociedade nos aplica por pensarmos
diferentemente do establishment.
A roda de veleidades e falsidades
sob a égide da qual vivemos é simplesmente insuportável: o sistema dos sistemas
que nos domina até o pensamento é tão nocivo e mordaz que se regozija de
possuir o totalitário controle sobre a raça humana, por guerras e guerrilhas
sem sentido, sem precisão.
Ordenamentos legais, nos dois
sentidos, sim: os há e muito bem formulados; vide por amostra a Declaração
Universal de Direitos Humanos de 1948, para que documento mais importante e
apropriado? Mas se você quiser ir mais longe, vamos! Que tal as doze tábuas, os
achados arqueológicos com inscrições de há milhares de anos já mostravam as
leis e os modos de viver coletivo do povo humano!
E por que é que, francamente, as
pessoas se violentam, se agridem; aliás: porque é que nações aparentemente
irmãs em costumes e tradições se digladiam e batalham entre si por argumentos
inacreditáveis de serem guerras pela paz ou até guerras santas? Inadmissível,
irracional, irascível, intolerável do ponto de observação apenas da lógica
humana!
Dizem os mais experientes que o
que moveria o mundo são as obras inacabadas de inspiração superior e que a
humanidade, através de esforços coletivos, executa. Mas é improvável pensar ou
ao menos cogitar (permita-me aí o termo) que uma mente superior, ou sub-mentes
com ares de superioridade pudessem se arvorar do direito de realizar quaisquer
obras tendo para isso que menosprezar a dignidade e a honra humanas, só para
começo de história.
Já vivemos a humanidade, pelo
menos Duas Grandes Guerras, afora guerras e guerrilhas menores, e nem por isso
menos destrutivas em seus efeitos, colonialismos, impérios, ditaduras e essa
corja toda de espoliação, salvo raros casos. As mensagens de que isto
aconteceria por meio de análises geopolíticas e reuniões prévias se havidas
fossem com um mínimo de transigência e altivez dos grandes líderes mundiais de cada
época bem poderiam evitar o massacre e a destruição em massa que provocariam
anos mais tarde.
Nunca poderemos confundir
conchavos com conclaves, nunca! Há movimentos pseudo-religiosos, os quais
estive analisando por opção pessoal minha mesmo, os quais vendem e comercializam
descaradamente a fé, como se fora um bem a venda a salvação post-mortem. Diferentemente daquelas
religiões com verdadeira doutrina e considerabilidade por parte de qualquer
pessoa sensata, as quais resistem bravamente, cada uma em sua região e entre
suas gentes. Mas ver e ouvir o que eu vi e ouvi nos recentes anos:
mercadologização da sacralidade, o mal estar usado como premissa para a compra
de indulgências pós-modernas! Escatológico.
Voltando à terrinha, a esta
outrora cidade verde, recente cidade cinza, agora cidade baça, que poderia te
registrar de informação; quase nada, pois aqui é tudo naquela mesma, se não for
fofoca, boca miúda, futrica, fuxico, especulação, não é Theresina. Aliás, agora
estamos na fase do logro e da enganação massiva: é propaganda de governo, é
propaganda de indústria, propaganda de comércio, propaganda de empresa,
propaganda até de camelô – quem diria!!
Mas isso é o mais leve. Pior é a
conversa comezinha de que aqui não tem mais jeito, sempre será um Estado pobre,
uma cidade paupérrima, vilas-bairros pobríssimos... por quê? Porque a verba,
aquela mesmo – que é do nosso bolso, algibeira e carteira, – a verba some,
desaparece, torra, evapora, escorre, desfaz-se em mirabolantes e inexplicáveis
percursos da sua fonte ao destinatário final que deveria ser... a mesma fonte!
Mas não estou dizendo isso porque
um político revoltadinho mencionou, ou porque um popular mais aguerrido
denunciou. Nada, nada disso. Assim me exprimo, pois eu parto da seguinte
constatação: se o Estado e/ou a cidade é assim tão penurioso/a, porque é que na
propaganda das eleições o Estado e a cidade que vemos, ouvimos e presenciamos é
tão bela, rica, harmoniosa? Se na divulgação estatal somos terra de
oportunidades, de vocações?
Pode crer que, se você me crê
neste ponto, eu também acho que aqui seja e possa vir a ser mais ainda terra de
oportunidades, de vocações, até de sonhos que se tornem interessantes,
auspiciosas realidades. Mas não é a propaganda que está errada! Nem tampouco as
tais divulgações! O que está deveras errado, meu caro Torquato, é a ação, o
fazer, o modo de realizar, numa expressão: a atitude governamental face aos
problemas, pois afora a propalada corrupção e mau-caratismo presumidos, há a
inexperiência, a arrogante ignorância de gestão, a falta de preparo na
administração da nossa casa, que são nossa cidade e nosso Estado.
Assome-se a isso o fato de a
escola da corrupção ter evoluído incomensuravelmente mais rápido de que a
escola da boa gestão, do bom governo, do saber lidar com pessoas para saber
lidar com projetos, programas, planos e metas de verdade importantes,
significativas ao nosso desenvolvimento desde a esfera pessoal, até chegar à
esfera governamental. E são várias as falhas: na Moral e Civismo, na Educação
Formal, Educação Informal, Educação Superior, Educação Profissional, até na
Educação Midiática. Isso só para mencionar algo sobre educação.
Tem ainda tantas outras áreas que
daria pra escrever um livro só com o rol exemplificativo. Sem exagero! E sabe o
que mais agride a gente? É estar à força inserido num sistema assim, de
falsidade ideológica e atitudinal, repito. Pena que as crianças sejam ensinadas
para o crime, sem distinção: da mais simplezinha à mais sofisticadazinha; todas
vão ser criminosas alguma vez em suas vidas, ao menos uma vez por dia. E a
tendência é a desacreditação geral, com o domínio dos despachos cartorários,
com firma reconhecida, selo oficialesco e tudo o mais que isso implique. A era
notarial, dos protonotários e tabeliães, dos donos da verdade por procuração,
tramitação e imposição burocrática. Absurdo!
E um dia virá um cidadão de
mau-humor, cheio dessa zorra toda, cansado de tanta mentira e tormenta, e ele
reclamará aos tribunais até ao Tribunal Superior, ao Supremo Tribunal, ao
Conselho Mor daquele governo enfim, e aí receberá como resposta ou o desprezo
da causa ou o sorriso de escárnio e descaramento das autoridades ante o
problema, ou uma mera resposta paliativa sem maiores palavras que um: “Estaremos
anotando e julgando seu pedido”
Torquato? Torquato você ainda
está aí? ... (Dormiu.) 20/01/2014. Quase
21:52h... JPSM
