Blog liberto a público de arte abstrata-concreta, literatura mundana, jornalismo experimental e direito cotidiano. ¡Pensare reactivus est!

sábado, 30 de setembro de 2006

Tristhes Tzarismos Dada�stas

Tristhes Tzarismos Dada�stas

Soneto à carnificina e"lei"toral

The politics of thieves in international language
(ou a política dos ladrões em linguagem internacional)

Malas, maletas, valises, sacolas.
Bolsos, pés-de-meias, cuecas, mãos à frente e atrás.
Marco Aurélio, superioríssimo (então) senhor ministro do tribunal eleitoral brasileiro:

caminhando contra o justo, sem ordem nem progresso gradual, seguro ou lento; que é que foi,

que é que há.
Lula, excelente (então) senhor presidente: cálix de sangue retinto de gente, afasta-se de mim

este cálix; quem te viu, quem te vê.

Voto nulo, solução impedida, assunto encerrado.
Voto protesto, movimento escapista, imposteridade imediatista.
Estrutura de Estado, maquinário mentecaptocrata sobreversivo.
Super-estrutura de Governo, ideolário excusivista intransparecível.

Mercadoria, dinheiro, ideologia (não quero outra pra viver), prostibuloteiro.
Que país será este, o que porventura será que me dar-se-á?
Serviçalismo, escravidão, prisoneirice: tudo mudar, ainda poderá...

Patifaria, capitaleiro, mentinharia (não preciso dessa pra vencer), impartidarismerceeiro.
Que boçal sou isto, o que sem censura virá que te far-se-á?
Imbeciloidismo, debilismo, inercialice: todo lutar, nunca pelegarás.


Para os juvenis estudiosos da est-ética na política nacional, temos conselho internético pra

aprofundarem suas incursões método-lógicas:

Pecados capitais na política brasileira - a série

http://jg.globo.com/JGlobo/0,19125,VVJ0-2756-243944,00.html

JotaPê ad memorian dos mortos, lesionados, molestiados e assassinados pelos infames tirano-ditatorias mobilizadores sociais mesquinhos e medíocres de outrora, soberbos e supérfluamente massacristas d'agora. In nomi patri, et fili, et spirit saint, amem.
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quinta-feira, 28 de setembro de 2006

Verborragia do baú



NOTAS DE DADAÍSMO

Os gêmeos da divina blindagem...
Mortos na Tchechênia...
Descoberta de pedra-fogo no meio da neve...
Ossos de animais, sem nada racional, cavaram cova em terra alheia, sem problema de óbituração
Comprovação de viagem mortal comprovada
China e Ìndia com superávit de mortecnologias, déficits humanários
Rússia contra os mortos, baixas de guerra
Estados Unidos com programa cívico anti-vivos, altas de paz
E no Br as crianças penam de dor e fome a zil.
América o ano é feito padrasto, basta de opulência, arrogância (que merda) isso não!
Não somos mais o futuro da nação, somos o que sobrou da destruição, uma frustração construída
Condução de meio passe, passe logo senão fica tapete de mentes idiotas e doentes.
Soldadinhos do fundo, defendendo um comandante espião do outro lado, violado, abalado
É isto porra, fume essa fumaça, não é mensagem de pajé ou tragada dos praças
É ponto de faísca, fagulha de guerra, contra a besta fera, megera.
Cade minha trupe, e essa tribo; onde foi parar?
O quê? Já saíram, fugiram, partiram, caíram -¬_
Agora tamo sozinho, eu e você. O que vai fazer pra revirar essa solidão, prosseguir a tal

missão: o debate prossegue, com vontade, o combate, se repete. O vício no interior deve ter

derrocada, essa juventude parece amacacada, possuída, está sem sentir, consumida, já foi,

devorada, partida.
Largou o mal, escapou, voou, passou além da vista, divindade prevista, jubileu morreu, "soul"

venceu em apogeu, crescente posição, malabarismos potente, Cristo foi quem te recebeu,

Eucaristia em cerimônia de Comunhão, largou a devassidão, com satisfação dá adeus [ADEUS!],

último momento de comunicação, bênção!

"Na vida foi me salvar da morte,
e sua morte vai me salvar a vida,
rima proibida" [Site Zen]

João Paulo Santos Mourão apud. & rev. in: Jota Pê 02/12/2001
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quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Bezerra da Silva in memorian porra nenhuma: é pós-morte mermo

Tristhes Tzarismos Dada�stas

Em homenagem ao multimalandragens Bezerra da Silva, nordestino radicado no Rio de Janeiro para fazer samba-canção do morro para ensinar-nos como viver sem vacilar e só nas manhas...olhaí gente boa, tá na lorota embaixo, saqualé...


A Giria É a Cultura do Povo
Bezerra da Silva
Composição: Elias Alves Junior, Wagner Chapell

Toda hora tem gíria no asfalto e no morro
porque ela é a cultura do povo

Pisou na bola conversa fiada malandragem
Mala sem alça é o rodo, tá de sacanagem
Tá trincado é aquilo, se toca vacilão
Tá de bom tamanho, otário fanfarrão

Tremeu na base, coisa ruim não é mole não
Tá boiando de marola, é o terror alemão
Responsa catuca é o bonde, é cerol
Tô na bola corujão vão fechar seu paletó

“Toda hora tem gíria...

Se liga no papo, maluco, é o terror
Bota fé compadre, tá limpo, demorou
Sai voado, sente firmeza, tá tranquilo
Parei contigo, contexto, baranga, é aquilo

Tá ligado na fita, tá sarado
Deu bode, deu mole qualé, vacilou
Tô na área, tá de bob, tá bolado
Babou a parada, mulher de tromba, sujou

“Toda hora tem gíria...

Sangue bom tem conceito, malandro e o cara aí
Vê me erra boiola, boca de sirí
Pagou mico, fala sério, tô te filmando
É ruim hem! O bicho tá pegando

Não tem caô, papo reto, tá pegado
Tá no rango mané, tá aloprado
Caloteiro, carne de pescoço, “vagabau”
Tô legal de você sete-um, gbo, cara de pau

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Malandragem Dá Um Tempo
Bezerra da Silva
Composição: Popular P. / Moacir Bombeiro / Adelzonilton

Vou apertar, mas não vou acender agora
Vou apertar, mas não vou acender agora
Se segura malandro, pra fazer a cabeça tem hora
Se segura malandro, pra fazer a cabeça tem hora

É que você não está vendo
Que a boca tá assim de corujão
Tem dedo de seta adoidado
Todos eles afim de entregar os irmãos
Malandragem dá um tempo
Deixa essa pá de sujeira ir embora
É por isso que eu vou apertar, mas não vou acender agora

REFRÃO

É que o 281 foi afastado
O 16 e o 12 no lugar ficou
E uma muvuca de espertos demais
Deu mole e o bicho pegou
Quando os home da lei grampeiam
O coro come a toda hora
É por isso que eu vou apertar, mas não vou acender agora

REFRÃO

É que você não está vendo
Que a boca tá assim de corujão
Fio desencapado adoidado
Todos eles afim de entregar os irmãos
Malandragem dá um tempo
Deixa essa pá de safado ir embora
É por isso que eu vou apertar, mas não vou acender agora

REFRÃO

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A Fumaça Já Subiu Pra Cuca
Bezerra da Silva
Composição: Indisponível

Malandro é malandro
Mane é mane
Aí doutor esse malandro é de verdade
Não sobrou nem a piaba
Não tem flagrante porque a fumaça já subiu pra cuca 2X
Deixando os tiras na maior sinuca
E a malandragem sem nada entender
Os federais queriam o bagulho e sentou a mamona na rapaziada
Só porque o safado de antena ligada ligou 190 para aparecer
Já era amizade
Quem apertou, queimou já está feito
Se não tiver a prova do flagrante nos altos do inquérito fica sem efeito
Quem pergunta quer sempre a resposta
E quem tem boca responde o que quer
Não é só pau e folha que solta fumaça
Nariz de malandro não é chaminé
Tem nego que dança até de careta
Porque fica marcando bobeira
Quando a malandragem é perfeita ela queima o bagulho e sacode poeira
Se quiser me levar eu vou, nesse flagrante forjado eu vou
Mas, na frente do homem da capa preta é que a gente vai saber quem foi que errou
Se quiser me levar eu vou, nesse flagrante forjado eu vou
Mas é na frente do homem que bate o martelo é que a gente vai saber quem foi que errou.

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Meu Bom Juiz
Bezerra da Silva
Composição: Gutaum

Aaaah, meu bom juiz
Não bata este martelo nem dê a sentença
Antes de ouvir o que o meu samba diz..
Pois este homem nao eh tao ruim qto o senhor pensa
Vou provar q lá no morro.. (2x)

Vou provar q lá no morro
Ele é rei, coroado pela gente..
É que eu mergulhei na fantasia e sonhei, doutor
Com o reinado diferente
É mas nao se pode na vida eu sei
Sim, ser um líder eternamente
Homem é gente..
Mas nao se pode na vida eu sei
Sim, ser um líder eternamente
Meu bom doutor,
O morro é pobre e a probreza nao é vista com franqueza
Nos olhos desse pessoal intelectual
Mas qdo eu alguem se inclina com vontade
Em prol da comunidade
Jamais será marginal
Buscando um jeito de ajudar o pobre
Quem quiser cobrar que cobre
Pra mim isto é mto legal
Eu vi todo juramento, triste e chorando de dor
Se o sr. presenciasse chorava tb doutor...

Aaaah, meu bom juiz, (meu bom juiz)
Não bata este martelo nem dê a sentença
Antes de ouvir o que o meu samba diz..
Pois este homem nao eh tao ruim qto o senhor pensa
Vou provar q lá no morro.. (2x)

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Os Direitos do Otario
Bezerra da Silva
Composição: Bezerra da Silva

Refrão: quem fala é malandro e conhece a barra pesada
Otário só tem dois direitos tomar tapa e não dizer nada

Aonde pintar um otário
Tem caguetagem e malicia
Otário é a imagem do cão e
também cachorrinho de policia

Todo otário cagueta
é verdade não é esculacho
é que bolso de otário é nas costas
Virado de boca p baixo
é que bolso de otário é nas costas
Virado de boca pra baixo

quem fala é malandro e conhece a barra pesada
Otário só tem dois direitos tomar tapa e não dizer nada


Otário é um bicho safado
É mesmo uma praga ruim
E nasce no mundo inteiro
E destrói tudo igual a cupim

Olha se eu fosse um cavalo
Não ia sujar o meu nome
Se otário fosse capim
Aí eu morria de fome
Se otário fosse capim aí eu morria de fome

quem fala é malandro e conhece a barra pesada
Otário só tem dois direitos tomar tapa e não dizer nada


Aonde pintar um otário
Tem caguetagem e malicia
Otário é a imagem do cão e
também cachorrinho de policia
Todo otário cagueta
é verdade não é esculacho
é que bolso de otário é nas costas
Virado de boca p baixo
é que bolso de otário é nas costas
Virado de boca pra baixo

quem fala é malandro e conhece a barra pesada
Otário só tem dois direitos tomar tapa e não dizer nada
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domingo, 24 de setembro de 2006

Jornalismo político: Luís Carlos Prestes e Getúlio Vargas


Era Vargas (1930-45)→ Início com o golpe de 1930 (deposição de Washington Luís e ascensão de Getúlio Vargas).
• Governo Provisório (1930-34)→Houve a transição política. Vargas demorou a convocar eleições e uma Assembléia Constituinte. Em Julho de 1932, São Paulo iniciou o movimento da Revolução Constitucionalista.Embora tivesse sido um fracasso do ponto de vista militar, no campo político seus reflexos foram positivos: Vargas reprimiu o movimento mas convocou a Assembléia Constituinte e em novembro de 1933 houve início aos trabalhos dos constituintes eleitos que resultariam na promulgação da nova Constituição de 1934. Preservava o liberalismo e o presidencialismo, além de manter a independência dos três poderes, fixando o primeiro presidente por voto indireto da assembléia.Também trouxe novidades: o voto universal secreto (extensivo às mulheres), o mandado de segurança, a eleição de representantes classistas e a legislação trabalhista.
• Governo Constitucional (1934-37)→Marcado pela polarização ideológica entre fascistas e comunistas (ascensão do nazi-fascismo: influência na formação da Ação Integralista Brasileira-AIB, nacionalista, autoritária, antidemocrática, anticomunista;fundação da Aliança Nacional Libertadora-ANL com grande adesão popular e união de vários setores ou alas reformistas e esquerdizantes dos tenentes, camadas liberais, socialistas, comunistas e líderes sindicais, todos com intentos democráticos, antiimperialistas, antiautoritários e reformistas. Suas principais reivindicações eram: suspensão do pagamento da dívida externa brasileira, nacionalização das empresas estrangeiras, realização de reforma agrária, ampliação das liberdades públicas e formação de um governo popular), ou seja, o Integralismo de Plínio Salgado e o Comunismo de Luís Carlos Prestes.
→A reação Contra o levante popular, por parte das oligarquias e do capital estrangeiro, foi rápida. Aprovou-se uma lei de segurança nacional com o objetivo claro de reprimir o crescimento da ANL (já com quase 400 mil filiados). Diante da extinção da ANL sua facção de esquerda, predominantemente comunista, preparou um golpe com características de insurreição: A Intentona Comunista.Vargas decreta estado de sítio. Mas os rebeldes terminaram sendo encurralados no Rio de Janeiro, onde acabaram sendo bombardeados até a rendição. A partir desse episódio confirmou-se o fracasso do levante comunista.
→A campanha sucessória para as eleições de 1938 foi marcada por acentuação das divergências no bloco dominante (pela intensa perseguição às já enfraquecidas forças oposicionistas mais contestadoras). A disputa parecia definida entre Armando de Sales Oliveira e José Américo de Almeida. Então iniciou uma série de movimentos continuístas de Vargas; para o sucesso em qualquer movimento golpista ele necessitaria de apoio militar, conseguido junto aos generais Góes Monteiro e Eurico Gaspar Dutra, os quais montaram o esquema necessário ao golpe político.
→1937-Ano decisivo do plano Cohen, forjado por Vargas como pretexto à instalação da ditadura do Estado Novo (ou Nova Ordem Nacional).
• ESTADO NOVO→Ditadura de cunho fascista, legitimada pela Constituição de 1937, que retirava todas as garantias do indivíduo, restringia a ação dos sindicatos e garantiu ao Estado um papel policial repressor.Caracterizou-se por: perseguição e repressão aos opositores do regime, economia caracterizada pelo incentivo à produção industrial de base (Companhia Siderúrgica Nacional e Vale do Rio Doce), o trabalhismo atrelou os sindicatos ao Estado e elaborou a CLT/1943 (Consolidação das Leis Trabalhistas), censura e propaganda (Departamento de Imprensa e Propaganda, Departamento Administrativo do Serviço Público e a polícia secreta) foram os principais órgãos do governo getulista, participação do Brasil na segunda guerra mundial com os aliados (Inglaterra, França e URSS).
• O FIM DO ESTADO NOVO→As manobras políticas de Getúlio não seriam suficientes para mantê-lo no poder e, em outubro de 1945, ele renunciaria. Chegava ao fim a ditadura do Estado Novo e, curiosamente, Vargas se via obrigado a deixar o poder por ordem de Góes Monteiro, general que havia liderado o golpe de 1937.O governo foi entregue a José Linhares, presidente do Supremo Tribunal Federal. Nas eleições de dezembro saiu vitorioso o general Eurico Gaspar Dutra, candidato apoiado por Vargas.

A República Democrática→A deposição de Getúlio Vargas acha-se intimamente ligada à derrota dos regimes nazi-fascistas na Europa pelas forças aliadas.Ao final da segunda guerra mundial os EUA assumiram a liderança do bloco capitalista e a URSS a hegemonia do bloco socialista.O processo de redemocratização do Brasil efetivou-se tendo como pano de fundo essa conjuntura internacional. No período compreendido entre 1946 e 1964 verificou-se, internamente, o confronto político entre os nacionalistas e os liberalistas (grupos favoráveis á abertura da economia nacional ao capital estrangeiro e aos mercados externos). Impôs-se o alinhamento e a dependência brasileira ao bloco capitalista, sob a liderança dos Estados Unidos.
A nova era de Vargas(1951-1954)→Cinco anos depois de ser derrubado do poder, o velho ex-ditador Getúlio Vargas continuava sendo ainda a principal figura política do Brasil. Tal afirmação pode ser atestada como verdadeira se observarmos os resultados das eleições de 1950. Getúlio Vargas foi eleito com 48,7% dos votos, derrotando nas urnas seus concorrentes Eduardo Gomes e Cristiano Machado por larga margem de diferença.A política nacionalista de Vargas propunha uma via autenticamente brasileira no desenvolvimento capitalista, sem radicalizar-se quanto ao capital estrangeiro.Essa era a estratégia Varguista para o desenvolvimento do país. Procurando retomar suas antigas linhas nacionalista e intervencionista, Vargas voltou-se em especial para a petroquímica, siderurgia, transporte, energia e técnicas agrícolas. Sua política econômica estava estruturada no Plano LAFER (Plano Nacional de Reaparelhamento Econômico). O capital estrangeiro no Brasil promoveu o desenvolvimento de empresários, burocratas e gerentes que se opunham à política nacionalista de Getúlio. O nacionalismo radical de Vargas e sua velha disposição de aproximar-se do operariado – no dia 1º de maio de 1954, concedeu 100% de aumento aos salários mínimos – assustavam alguns setores da sociedade brasileira comprometidos com o capital estrangeiro. Por sua vez, Getúlio Vargas atacava os setores ligados ao capital estrangeiro, afirmando que a remessa de lucros para o estrangeiro era o fator crônico das dificuldades brasileiras. Ala extremista de oposição, liderada por Carlos Lacerda, acusava de corrupção as pessoas ligadas ao governo e denunciava financiamentos escandalosos do Banco do Brasil. A radicalização das posições levou ao crime da rua dos Toneleiros, isto é, ao atentado contra Lacerda, cujo resultado foi a morte do major-do-ar Rubens Vaz, no dia 5 de agosto de 1954. Na apuração das responsabilidades sobre o crime, chegou-se à conclusão de que o mesmo fora arquitetado por Gregório Fortunato, o fiel guarda pessoal de Getúlio. O país se agitou. A temperatura política era insustentável. O vice-presidente Café Filho propôs a Getúlio que renunciassem, deixando o Congresso eleger o sucessor. Vargas disse que só sairia morto. Na manhã do dia 24, Vargas estarrecia a nação. Suicidava-se com um tiro no coração e incendiava o país com uma carta-testamento:

NADA MAIS POSSO DAR A NÃO SER O MEU SANGUE

“Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente e se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam-me; não me dão direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender como sempre defendi o povo e principalmente os humildes.
Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de espoliação dos grupos econômico-financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei um regime de liberdade social. Tive que renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.
Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.
Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.
E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História." (Rio de Janeiro, 23/08/54 - Getúlio Vargas)


“Em meados de 1970, Luís Carlos Prestes, Roberto Campos, entre outros ilustres representantes da política nacional estiveram reunidos em uma ‘mesa redonda’ para debater e esclarecer situações referentes à repressão intensa sofrida pelo movimento comunista (inicialmente camuflado com a sigla da ANL, Aliança Nacional Libertadora) em especial pelo PCB, Partido Comunista Brasileiro, este que funcionara na ilegalidade desde 1922, entremeando na discussão diversos casos polêmicos e não totalmente esclarecidos, como as numerosas prisões de partidários bem como de cidadãos alheios ao Partido Comunista Brasileiro, sem mencionar incontáveis torturas. A isto, o porta-voz do governo recebeu com serenidade aceitando os fatos expostos, ressalvando, porém, a posição de abertura política após a redemocratização pós-1964. Não havendo mais meio algum de recuperar vidas perdidas em guerra ideológica.” [trecho de entrevista na TVE, Rede Brasil, Rio de Janeiro, programa “A Verdade de...” exibido em Dezembro de 2002.]

Indicação de Leitura:

§ 1930: os órfãos da revolução,Domingos Meirelles,2005, Record.
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