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domingo, 3 de setembro de 2006

Cronicacidental

Ao velho crônico Zuenir, de Ventura nova sempre

"Alô, atenção! Alô, alô, atenção!!! Therezina!! Teresina!!!! Alô..Zuenir, aquele abraço de fazer o trem zunir! Aê... Ventura, de moço e reta postura! Alô, alô...roda, roda, roda...a buzina do Chacrinha!"

Crônicas

1st. 1ro.

Um homem e seu filho. Exposição de arte erótica,cubismos, surreais, traços expressionais..

mais que isso: troçapicantes, salão nobre dos Diários. O menino, avançando a faixa de

segurança para observação e toque na obra. Em direção ao quadro, uma pintura de Pablo

Picasso. O pai em pânico, estorvado. Episódio duma estória do maior puxarranco physical e

felomenológico já visitado em pessoalmente atelier de modas pictográficas.
- Meu garoto, não pode passar da listra aíno chão ó...
- Por quê, ô pai..?
- Pois o moço da segurança não deixa, tem alarme; além disso, é proibido, só é pra ver, não

triscar.
- Mas eu só tava apontando ali pra ler a plaquinha, com o nome do moço, que a professora dele

pediu pra ele desenhar essas coisas e ele escreveu muito feio. Não dá pra ler! Só naquela

placa aliembaixo, ali...
- Eu leio pra você, meu rapazinho. Pode deixar, agora se aquiete! Tá entendido!?
- Tá bom, tá bom..

2nd. 2do.

Um filme e sua fantasia. "A Mulher", provavelmente rolo de 16mm, arcaísmo empoeirado e

porãonizado oriundo de 1935, em plena Sala Torquato Neto, exibição de 19-21:30h: visões da

época por artistas do circunstante. Cochichos, ruídos de barbas masculinas e cabelos

femininos, mexer de roupas luxuosas do povo bem comuns por aqui, teclar de aparelhos

telefônicos celulares. Silêncio: à película, psiu! Uma fabulosa contagirândola do cinema de

veracruzeirista kinematographia | o Brasil do charme feminista e emancipante, da sociedade

machista e obscena, tomadas de um espetáculo. Pensamentos monologais!
- Esse filme, está muito desconservado, mal cuidado, mas ainda assim é bom por demais pra

entender a cena brasileira naqueles idos. Puxa, e o outro de ontem; O Ébrio, com Vicente

Celestino, um primor! Que horrível ter de assistir a degradantes e retrógrados filmes

enlatados dos outros lugares,se temos tão rica produção, clássicas e desprezadas! Os

cenários, os personagens [sua feição, gestual, enquadramento, ritmo dos movimentos, caras e

bocas e corposições...], a mágica construção do repertório de assuntos, a cotidianidade, a

plástica, a mímica, a expressividade, a luminosidade de trejeitos dos trajes e ultrajes! E

esse bando de gente estranha aqui, cada um pensando algo; que será que eles pensam do filme?

ou eu penso só e eles apenas o assistem com os olhos? é melhor parar de pensar.

3rd. 3ro.

Na rua contígua ao restaurante-platéia e defronte o micropalco das apresentações regionais de

músicos. Rua Álvaro Mendes com rua 13 ou Treze ou XIII de maio. Jovens circulam, pulam

amuradas, esgoeam-se entre si, recolhem-se com mochilas e roupas de colégio. Um momento.

Pausa. A cabeça do proto-cronista reage ao exterior entrevisto: a vida atualizando-se, sem

limites, novidades mastigadas e engolidas depressa. Não há tempo a desperdiçar, a deixar

esvair, escapulir. Surgem colegas de jornalismo, lógico. Imaginável..previsível..plausível.
- Oi fulano! Está tudo jóia contigo?
- Estou bem! tudo bem.
- Tás a serviço? ou à paisanamente?
- Tou participando duma outra coisa, expondo trabalho: semana de comunicação da faculdade lá!
- Beleza,meu velho! E então, vai ficar pro xou aí de música elitar-popular?
Vou sim, já perdi a aula de inglês mesmo!
- Ah, mas lá uma vez...não há problema! Não achas?
- Mas essa é já a quinta vez!
- No stress! We canspeak here too!
- Let's play! Eu digo, let's practice.E você: help me, you.
[...]
- Vou indo agora meu irmão!
- Vai ouvir o som não?
- Não, tenho trabalhos outros, você sabe que nunca estou livre de afazeres!
- Olha, os outros ali: o beltrano e a cicrana!
[cumprimento-os beijando e apertando a mão da mulher, a mulher de meu amigo; ele, finjo que

vou beijar, faço menção de um lado e ao quase beijar a outra face, faço uma cara de "opa, que

é isso que estou fazendo, hein?!" e rimos todos. Aí reiniciamos o colóquio!
- Olá, vocês perderam a palestra dos cronistas!
- Não, a gente tava lá! Até vimos você. Aí o beltrano deu um tchauzinho.
- Mas você nem viu e tive que esboçar um colega imaginário e não perder a pose!
- Ou rapaz, foi sem querer!É que eu estava coçando as costas de uma colega lá...sabe?! Nem

vi, sou cego, como sabem!
- Eu percebi,né: safadão! Só mordendo!
- Não para tanto, menos! Era só uma amiga, só isto...
- Vamos ver o musical?
- Não posso, já estava de saída, mas boa festa pra vocês, divirtam-se!

4th. 4to.

Um grupo de pessoas fazendo perguntas aos estudiosos e profissionais do gênero jornalístico.

Declamação de escritos deles. Comentários, mediação, microfone aberto ao público espectador.

Aí, descontração, indagações cultas, colocações pessoais, opiniões gerais. Muitas! E esperei

até o fim. No final o grande momento! Uma mulher se revoltara e manifestara, nos últimos

instantes, sua insatisfação com o evento, em alguns detalhes.
- Só queria dizer que gostei das participações dos escritores, mas estou frustrada com a

organização dos realizadores: me maltrataram já na entrada; se é que não cabia mais gente,

porque não puseram isso num lugar com maior capacidade? outra coisinha: nunca conseguimos

falar pois algumas pessoas monopolizaram o tempo do microfone e quem escolhia, só via quem

estava nafrente ou era famoso, amigo. Era só isto que tinha a dizer.

5th. 5to.

Palmas de todos, após a desabafada fala da mulher; de pé, inflamados, irmanados na coragem e

risco dela, agora concordante, não apaziguadores ou omissos como antes! Palmas, vivas,

aclamações, admoestações, gritinhos de animação, entre outras fórmulas. Eu, no meu banco, não

mais assentado, misturado ao clamor, apaludia, ria, só ouvindo e vendo tudo.
- A organização pede desculpas pelos inconvenientes, fizemos o que pudemos e temos regras

também a cumprir, mas esperamos ouvir-lhes e corrigir prum futuro evento. Obrigada a todos.

Agora, um presente pra quem esteve até o fim: sorteio de ingressos para exibição artística da

banda taliecoisaetecéteraetudo. Ali na portaria, na saída, podem se dirigir a senhora coisana

ali, obrigada. Até a próxima. Agradecida.
Isso, apresentação de logo depois, no clube perto, no mesmo complexo cultural, de mpb

contemporânea, nova mpb. Pressa, correria em marcha atlética pseudo-educada pra catarem os

tíquetes. Eu na minha, quieto, pensativo. Mais uma reportagem relatada. Ponto e data e assina.
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