Que Festa?
Festa...
Festa pra quê?
Festa pra quem?
Afinal
Festa, festa pra
comemorarmos o quê?
O universo caótico e
assim equilibrado?
As etnias mundiais
terrenas que se digladiam matam e destroem?
Os povos nacionais que
ora se eliminam pela força bruta ora pelas mentiras?
As comunidades que
miseravelmente são estropiadas insensivelmente?
Festa, há ainda o que
motive comemorar em festa?
Festa, há ainda quem
mereça ir a festa?
Festa, há ainda quem
comemore algo ou alguém em festa?
Enfim
Festa?
Festejar como, se a alegria inexiste e o
prêmio é sempre falso
Mais hora, menos hora;
um festeja a desgraça do outro;
Vários poucos felizes festejam
sobre as muitas únicas desgraças infelizes
Você festeja sobre a
minha desgraça e vice-versa, ou revide-festa(!)
Eu abstenho-me de
tripudiar sob a dor que já sinto e pressinto crescida
Você, decida-se; a
quem tu serves, qual o teu servir, como é teu serviço?
Pois de festas ineficazes
e tolas, a sociedade abastece-se com vícios
Vícios dependem de
viciados; viciados vitimam a si, a outrem, a sociedades
E o ciclo de festas
infestejáveis recicla novos-velhos festeiros farsificados
Festa ?
Esta festa de fazer
com que pessoas que se gostam sejam enganadas por outras que as não gostam e
assim as fazem desgostar-se umas às outras e ainda daqueles festins dos outros
que acintam os uns para festa daqueles;
Tudo isso é motivo de
festa aos que se gabam de gozar festa à toa.
Permita-me, todavia,
dizer a vós, a quem quiser de vós ouvir-me: não consinto em festas irreais e
afasto-me do falso, posto não suportar ver travestida de irrealidade uma comemoração
qualquer inventada ao léu.
Mas não que me seja
comum tristeza, desimportância à vida e aos seus viventes costumeiros seres;
não significa achar assim apenas o mal amargor da vida e das criações de
viventes insignificantes que somos para o grande aventurar do universo ou
universos.
Penso que quando uma
pessoa manifesta chateação, raiva ou agitação, esta sim me representa sentir e
ter sentimento de algo na vida, não quem me manifesta apenas animação, gosto ou
estabilidade, esta somente falseia e tem falsidade de tudo à vida que lhe foi
concedida.
De sorte que, para não
ser insensível também, hei hoje pensado, escrito e reprisado estas intenções à
uma pessoa minha amiga, que por ventura do destino, do acaso ou do impossível
de predizer, esteve um pouco mais agitada hoje que o usual e me disse umas
poucas e não tão boas quanto a da expressão idiomática: diria eu ainda “melhores”,
neste conotativo aspeado e superlativizado termo.
Mas em momento algum,
eu resisti à tentação de dizer um gracejo, uma palavra feia ou mais “festiva”
entre os mau-humorados e fazedores de festa com a desgraça alheia.
Felizmente, desisti de
tentar uma explicação que só faria piorar os ânimos; sincera e delicadamente, resignei-me
ao sacro e – dizem – sábio silêncio providencial do tempo e do espaço e da
forma. Não discuto com quem gosto, se a pessoa não está merecedora de discussão
em questão de outra alçada.
Infelizmente, não
gosto todavia de ficar com a impaciente impressão de que a pessoa não entendera
meu gesto e a qualquer momento poderá pensar diferentemente de mim, a me
intentar mal, pensar erradamente de meus feitios, ou ainda pior: imaginar
coisas improcedentes a meu respeito.
Por isto, de agora em
diante, como autopunição social e que ela se note por todos, amplio minha
promessa outrora jurada em secreto e declaro que meu sorridente ou meu
entristecido semblante estará cada momento que passa mais distante das festas -
especialmente as dos outros sobre a desgraça alheia conforme já sobremencionado.
E minha rotina não chegará ao conhecimento de
festeiros de última categoria pela desgraça minha, das pessoas de minha
convivência e/ou quem quer que seja/esteja inteiro na amizade para comigo.
Termino, por ora, esta
missivazinha que vai a quem interessar possa, a lembrar a mim mesmo: Festa? Festa
pra quê? Pra quem? Por quê?
Festa, vossas
senhorias, é não precisar de festas para sentir por um minúsculo instante a
felicidade (qual uma gotícula de orvalho na terra semeada de porvires – no plural).
Festa, essa sim das
que gosto de participar e partilhar, é o sempre estar em paz consigo, de corpo,
alma, espírito, encarnado por inteiro, sensitivo ao insensível aos sentidos
vagos, sem carecer de simulações ou artifícios vis.
Mas desta festa, devo
dizer, prefiro não participar ou partilhar com quem dela não tome parte ou
tenha participado a construir altruisticamente. Pois não entenderá, tampouco
merecedor será do júbilo dela advindo.
Esta festa, senhorias,
chama-se “cotidiano”; não fecha-se em cubículos ou grades ou paredes ou cúpulas.
Apenas vive-se, não se comenta em vão.
Jotapê
17/11/2012.

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