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terça-feira, 1 de agosto de 2006

A mal-fadada das artes

"...por isto és tu poesia acertante: pois afora ti, o resto é prosa errante..."
Da poesia perante a prosa: dúvidas esclarecidas

[Não sei o que vou escrever, mas vou tentar fazê-lo com toda providência. Então: ei-lo aí.] A poesia é a mais elaborada das formas de literatura, de pensamento por palavras, de transcrição quase perfeita e holisticamente transmissível. Infelizmente, por inconsciência e despreparo em geral iniciamos nossa escritura profissional por ela, nas angústias vitais e palpitações emotivas; não há remédio melhor pr’um amante desamparado que um soneto, assim bem tão versos livres pro artista sem palavras medidas. Essa forma de escrever é talvez das mais desrespeitadas e incompreendidas, mas também a mais difícil e ininstruível.

A prosa deveria ser o princípio, o ditado mesmo, pela a leitura e cópia de autores cultos, atuais e pedagógicos. A tarefa não é da escola somente; a família, o circuito social, o local de trabalho, a pauta de imprensa, os projetos dos órgãos públicos, a idéia das organizações privadas,...tudo, todos devem favorecer a formação lingüística. De que adianta distribuir livros, se você não souber usar-lhes? Qual o propósito de encher bibliotecas, salas de leitura, feiras ou salões literários, museus, espaços culturais..se dali não há preparação para a leitura e interpretação personalizada do texto, da obra, do autor, do conjunto fundante desde a menor compreensão infantil, do básico desenvolver pubertário, do mediano amadurecer jovial, da altiva sublimação adulta? É vão, vago, vacilo.

Poesia, sua intenção, seu método, discursos e declamações: nada chega tão próximo da harmonia, do bem estar, do amor perfeito, da paz humana. A prosa, me permitam expressar, é um garrancho, um rabisco, unada de nada perto dela. Pois a prosa qualquer imbecil, otário escolarizado, com um reles repertório lexical e possuidor de dicionário vulgar sabem fazer, seja absorvendo ou externando. A poesia é para alguns sábios, eruditos experimentados, com vasto saber geral e oferecedor de vocabulário salutar podem mostrar, seja redigindo ou interpretando.

A mulher, por sua razão e instinto, é mais preparada para poesia. O homem, por sua mundanice e ponderabilidade, é todo prosa (sem exceções). Se há paradoxais exemplos discrepantes, é pura sorte e psiqueísmo misturado, não é porque fogem à regra não. Por isto, com aquela certeza, odeio intelectuais homens, e tecnicistas mulheres: é uma inversão crudelíssima de papéis e um baita dum sem-sensitismo. Mas, por ser mesmo um tarado admirador do universo feminino, de tediado censurador da dimensão masculina...sem chance vir aqui esposar outra forma de coisa, não é?!

A poesia ou a prosa, são ambas modalidades conjunturais; sua estrutura não implica que o sentido, o significado seja pré-formulado pela observação desimaginada apenas: o signo pode ter simbologias diferentes das apresentadas na Gramática Histórica, das Beletras, do Lingüisticismo socialmente “correto”. E uma não vive sem a outra, como o homem e a mulher, na essência ou na existência. Uma palavra pode ser tanto uma merda como uma relíquia, uma bosta ou um prêmio. Surpresa é o que não falta na nossa Língua Portuguesa tão abrasileirada que está ficando assim. Mas, suplico: não confunda amor com sexo, nem prosa com poesia, nem escritor com leitor. Faça sua parte e respeite os outros; critique e criticado seja. Portanto, faça começar sua poesia que faço final pressa prosa.

João Paulo Santos Mourão
01/08/2006
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2 comentários:

Anônimo disse...

João Paulo, gostei muito do "odeio intelectuais homens e tecnicistas mulheres"...rs. Como mulher me sinto lisongeada com o texto. Mas não podemos esquecer que Clarice existe e é tremendamente existencial!!! Ela consegue ser absurdamente poética com sua prosa. Quem Lê Clarice transporta-se a outro mundo...onde os sentidos resumem-se no não entender. É preciso gostar de se perder pra se encontrar novamente!

Unknown disse...

Clarice era panfeminada, não era mulher apenas.