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terça-feira, 24 de julho de 2007

Vícios do ofício


Aí cambalachada! Texto extraído do website noticioso da equipe ufpiana "Webjor". Como se estivéssemos numa sessão parlamentar desecontrolada, aparece um ilustrado colega com uma crônica ombudsmaniana peremptória sobre o assunto, vejam e leiam por vocês:

19/07/2007 - QUESTÃO DE ORDEM, SENHOR LEITOR!

Romeu Tavares



A crise política, na atual conjuntura, provocou algumas mudanças no vocabulário do brasileiro, com utilização de alguns neologismos como mensalão, valerioduto, doleiro, mensaleiros, etc. Expressões de conceito pontual e circunstancial, das quais a mídia incorporou em sua lista de dizeres jornalísticos, que muitas vezes exclui o grande público.

Não é difícil encontrarmos em textos jornalísticos da editoria de política, expressões como impeachment, incentivo fiscal, inquérito, lobby, caixa dois, neoliberalismo, ou ainda siglas como CPI, PC do B, FMI, etc. Sem esquecer os “imexíveis” neologismos que, notadamente, “blindam” o discurso do parlamentar. Todas elas, pertencentes a um universo palaciano do discurso político, as quais, cotidianamente, recheiam o vocabulário dos jornalistas dessa editoria.

Para um leitor incipiente ou que não vive nos corredores de uma Assembléia ou de alguma Câmara, esse “parlamentês” soará como alguma mensagem criptografada, frustrando um dos princípios básicos do processo comunicativo.

É provável que alguém defenda esta postura lingüística, argumentando o fato de que a polidez, a tecnicidade e outros adjetivos que emolduram o vernáculo político, venham a colaborar na construção do produto jornalístico.

Talvez o jornalista esteja freudianamente atrás de reconhecimento quando utiliza em larga escala e sem tradução o jargão da atividade que cobre – utilizar palavrório idêntico ao das fontes representaria, assim, uma forma de também ser "um deles", de ter a suposta relevância social "deles". É algo como associa o lingüista Ernest Fisher, em sua obra, A necessidade da arte, ao afirmar que “o homem aproxima-se da arte para viver outras vidas”. Deste modo, o jornalista aproxima-se dos jargões políticos para viver “aquela” vida.

O fato é que, para não poucos jornalistas, lançarem mão do jargão acaba sendo uma espécie de passaporte para uma suposta seriedade, um atestado de "estar por dentro”, um suposto marketing pessoal.

Obviamente, a apropriação da linguagem, que ultrapassa os limites da semântica, não tem na política seu único alvo; em outras editorias não é difícil perceber a inclinação do jornalista ao aproximar seu discurso com o da fonte, seja por identidade, defesa, admiração ou julgamento pessoal.

É interessante esse aspecto psicológico de tentar aproximação com a fonte. Lembrei-me, por exemplo, sem querer fugir do assunto, mas para ilustrar com um fato recente, do último evento cultural em Teresina – o Festival de rock Piauí Pop –. Durante uma entrevista com uma cantora de rock nacional, o entrevistador mudou abruptamente o seu vocabulário, empregando gírias do tipo “cara” – sim, a entrevistada era uma mulher –, “meu” – não, o entrevistador não era paulista –, ao se deparar com linguajar “descolado” da artista. Empregando uma expressão local, nessas situações, definimos isso, como “tá querendo se entrosar”.

Pressupondo que estes textos “semi-abertos” (Maingueneau, 1991) sejam encontrados na imprensa cotidiana; mesmo se o papel do contexto lingüístico seja importante, uma boa parte das informações não é acessível senão se o leitor dispõe de certo conhecimento do meio social. Isto sim traduz comunicação marginalizante.

Tanto nessa questão, e em outras mais, que poderiam ser abordadas, há muito a caminhar. O vasto noticiário político que produzimos ainda exclui o grande público.

Fonte: > WEBJOR < [sessão ombudsman na aba lateral esquerda]
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2 comentários:

. : . Taninha . : . disse...

Graaaaaaaaaaaaande Romeu!!!

oauehoaheah!!!

Não vou mentir e omitir o fato de ter dado boas gargalhadas com esse texto! xD

Romeu foi meu professor de Redação, não lembro exatamente o ano, mas lembro que ele sempre foi assim meio manso, observador e pegava no péeeee que uma beleza! ahuheuhauha! Acho que é por isso que as pessoas que estudaram comigo naquela época todas têm blogs e escrevem "pacas"!

"pô meu", mas vocês estão "de onda" mesmo né?

auehaoehahue!!!

Muito boa a observação!
xD

Um abração bem forte pra cada um de vocês dois! Duas criaturas hilárias, quietinhas, e tricoteirooosss!!! XD uahuahaua!

. : . Taninha . : . disse...
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