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quinta-feira, 21 de maio de 2009

Cultura de massa e identidade (apontamentos)

O micro-artigo que ora aqui se publica é resultante de uma séria observação sobre a transmissão de novas propostas culturais nacionais por meio dos veículos de comunicação de massa e o apoio a essas propostas por políticas públicas de Estado. Para tanto, utilizou-se da Teoria da Cultura de Massa, notadamente a nota introdutória de Luiz Costa Lima prof.º da PUC-RJ em livro de 1969 sobre o assunto de título homônimo e palestra proferida na UFPI pela prof.ª Ana Regina Rego Leal sobre o tema Marketing Cultural, na semana passada, dia 12/05/2009.

Na pág. 33 do livro Teoria da Cultura de Massa, ao falar de caracterizações propostas por Max Weber, assinala e aspeia esta:

"[...] A premissa mais geral para a existência do capitalismo moderno é a contabilidade racional do capital como norma para tôdas as grandes emprêsas lucrativasque se ocupam da satisfação das necessidades cotidianas"
[mantida grafia original e grifos do autor]


Ora, o autor ainda nos coloca uma passagem, oportunamente abordável, do economista F. H. Knight:

"As relações econômicas são impessoais. [...] O que é funcionalmente real é o mercado, a possibilidade da troca, não os sêres humanos; êstes nem sequer são meios para a ação. A relação não é nem de cooperação nem de mútua exploração, mas completamente não-moral, não-humana."
[idem]



Pois bem, lendo ainda um pouco adiante, à pág. 39, in fine, encontramos esta lúcida afirmação de um dilema dado do próprio senso comum:

"[...] quanto mais alguém é obrigado a trabalhar para sobreviver, tanto menos tem condições de viver a vida. Na verdade, porém, duas coisas estão em jôgo e não se confundem. A diferença principal entre o que nos diz o bom-senso e o que declara aquela reflexão consiste no seguinte: o senso comum não duvidará que existe hoje uma vida cotidiana da mesma natureza da que antes existia. Acrescentará até que ela parece mais variada e divertida.
[...]
A situação que analisamos acima é a de um mundo em que vigora a oposição cultura folclórica - campo ou centro afastado - e cultura escolarizada - cidade ou centro próximo. A oposição, como ainda vimos, era respaldada por uma situação concreta - a efetiva distância, não só geográfica, entre centro e periferia - que inconscientemente trabalhava sôbre as pessoas. Ora, o desaparecimento desta distância irá atuar agora em sentido inverso. Assim como da distância transparece o igual, na oposição que se constituirá, a distância será executada dentro de modalidades existentes num mundo igual."


Então, sob esse prisma sociológico, o desenvolvimento tecnológico - e sobremaneira no campo da comunicação, agora aglutinada e multidirecional - vai é projetar o desenvolvimento da indústria cultural como meio bastante válido e (como característico principal) tolerável ao sistema de produção cultural capitalista, por ir ao encontro de suas expectativas de lucro sobre o supérfluo.

Por outras palavras, na prática e na teoria inclusive, decepcionam-se aqueles que acreditavam ser possível cultura dissociada de mais-valia ou fetichização mercadológica: a indústria cultural assumiu mais este nicho e o tem explorado cada vez de formas mais absurdas do ponto de vista racional de tão variáveis que são seus mecanismos de venda e consumo.

Agora falando da palestra, vou chegar ao ponto que toca à discussão sobre Mídia e Poder em sua relação com as Identidades Culturais. Lembrando de antemão que somos hoje, de acordo com as doutrinas correntes nas universidades e cursos de humanidades mundo afora, seres ou sujeitos pós-modernos, de identidade plurifacetada. Isso dito, vamos entender dois tópicos que vejo como interessantes: a) Não existe produção cultural dissociada de poder, seja ele político ou econômico ou de influência midiática; b) as noções de políticas culturais e marketing cultural variam de alcance de acordo com o nível de evolução cultural de um determinado povo.

Pré-Conclusão:
a) A cultura é absorvida pelo poder, em quaisquer de suas variadas formas, como instrumental a serviço dele. Isso quer dizer que cultura só há com patrocinador, divulgador e reserva de público no mercado.
b) Formações humanas em diferentes situações de globalização e gestão teem ritmos diferenciados no trato e realização de suas autovalorizações identitárias, situação que provoca níveis de pertencimento ou identificação cultural diversas nos diferentes pontos do globo.

Conclusão:
A cultura é produto e moeda de barganha para com as massas, sendo instrumental utilizado pelas esferas de poder e quem souber se apropriar dela está preparado para assumir papéis de destaque no cenário estratégico do mundo pós-moderno, globalizado e lucrativo.
Inexiste, assim, cultura desvinculada de poder e vice-versa.

Pronto, despejei neste post um traço que me oprimia a consciência.
É bom sair daqui antes que se apoderem de mim...
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