Blog liberto a público de arte abstrata-concreta, literatura mundana, jornalismo experimental e direito cotidiano. ¡Pensare reactivus est!

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

O homem que copiava - the xerox man

Resenha semiótica do filme "O homem que copiava" - estudo especial

Em termos de proposta leiga em lingüística dos discursos fílmicos, o enredo de "O homem que copiava" é uma obra quase vídeo-documental a buscar traçar o cotidiano externo e íntimo de dois personagens principais que entrecruzam ao final suas estórias do destino. André era o operador de fotocopiadora (retirador de fotocópias ou xérox!) que bisbilhotava, xeretava pela janela de seu apartamento a vizinha Sílvia que era vendedora de uma loja de confecção e vestuário em Porto Alegre. Mas André é um sujeito pobre, de rotina bem repetitiva e que mora só com a mãe, tem o hábito de desenhar no seu quarto para revistas de história em quadrinhos, além de observar a Sílvia no prédio vizinho. Sílvia, por sua vez, gosta de ler e sonhar com futuros prósperos....daí decorre a inimaginável tragicoma da película: ela, até o final passaria por coadjuvante principal mas será na verdade a secundária protagonista! Ele (André) monologa para o espectador as suas idéias para chegar ao convívio de Sílvia; ele pensa num jeito de arrumar dinheiro pra realizar algo que o torne amigável para ela. Daí, surgem os demais personagens: Antunes, o marginal que lhe fornece o aparato de motivação ideológica e os canais concretos de obtenção da grana fácil;Marinês, a espertíssima gostosona colega da papelaria; Cardoso, o ilário e velhaco entesudado pela Marinês, etc. O André então faz uma coisa diferente: ele, com a chegada na papelaria do seu Gomide de uma máquina de fotocopiar colorida, resolve copiar dinheiro para comprar um robe/pijama de R$38,00 para sua mãe, como despista para rever e chegar junto de Sílvia. Daí começam as complicações, ele passa desde o preenchimento de jogos à toa para trocar dinheiro em casa lotérica até enveredar por um assalto a banco pra arrumar bufunfa suficiente pra fugir ao Rio de Janeiro com Sílvia. Resultam daí a perseguição de troco pelo Antunes, que fora preso (depois de vender arma pro André assaltar o banco) ao usar do dinheiro falso com que o André lhe pagara a arma; a premiação sem querer na loteria;a descoberta por André de que o policial em que ele havia atirado no pé durante o assalto ao banco era o pai de Sílvia e que ele lhe reconhecera e cobraria um faz-me-rir também pra ficar de bico calado; a criação de uma quadrilha entre André, Sílvia, Marinês e Cardoso (logo a seguir quando André e Cardoso ganharam o montante no assalto ao banco); a morte de Antunes quando perseguia o André; o assassinato do Feitosa, pai de Sílvia, com premeditação; a viagem ao Rio de Janeiro; enfim... O mais surpreendente e intrigante é a revelação ao finzinho de que Sílvia, era ela quem tinha inventado e arquitetado o contato com André e sabia que ele a vigiava voyeuristicamente e fazia semelhantes coisas, sem ele saber e planejava a viagem pro Rio de Janeiro e acabara motivando tudo aquilo! Simples e sumariamente, isso aí foi o que rolou no rodar das cenas estranhas e engraçadas do filme.
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Análises de filmes metavisíveis

Resenha semiótica dos filmes "O homem que copiava" & "Beleza Americana" & "O profissional"

Os três filmes, em grande medida, apresentam temáticas correspondentes e relativamente intertextuais: o cotidiano regrado repetitivo, a morte circundante naturalizada, o amor impossibilitado atingido, a comunicação sem palavras.

Em "O homem que copiava" temos a relação interpessoal paralela de dois jovens periféricos numa metrópole brasileira, os quais desenvolvem seus enredos separados e que se entrecruzam (ou assim se revelam) ao término. A visão social-comunista ditatorial do trabalho e da indisponibilidade de alternativas é rebatida com o ponto de óptica capital-globalista do lucro e da perspectividade de escolhas, por bem amiúde e mundana fórmula, bastante criativa e sutil no suscitar deste século XXI.

Em "Beleza Americana" observamos os valores sócio-hereditários, tradicionais aspectos de uma sociedade de aparências e falsidades: a rotina americana na virada do século XX pro XXI, os seus distúrbios de comportamento, as neuroses familiares e grupais, as psicoses inexprimíveis em público - mas reveladas ao espectador -, os permeios da interação instintiva e metafísica.

Em "O profissional" reparamos em choques da realidade na vida de duas pessoas aparentemente opostas, mas dialogicamente semelhantes; uma experiência de exorcização e vingança, misturada a elementos de desagragação humana, corrupção urbana e desnível oportunístico para os protagonistas. Um matador e uma garota sobrevivente a uma chacina policial a traficante de drogas.
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quarta-feira, 20 de setembro de 2006

Notações sobre "blogagem"

A literatura virtual, isto é, a migração de textos comentados, crônicas, poesias em postagens de blog é algo possível hoje. Posso me comunicar com escritores(as) de outros lugares, por outras palavras e diferentes formatos. Eles também podem corresponder, enviando comentários e críticas. Isto tudo é muito precioso, útil, interessante. Mas, como qualquer tecnologia e logo por ser mecanismo artificial, não substituíra a materialidade, a concreição da arte praticada em ambientes e com gente de fato vivas.

Minhas publicações até agora foram, em sua soma geral, feitas em rabiscos rápidos de papel ou, após reflexão momentânea sobre o assunto de redigir, tecladas diretamente à máquina num bloco de notas para depois serem repassadas à página virtual. Por quê? Pois acredito na velocidade do ciberespaço como um laboratório tendencioso demais ao sucesso fácil do raciocínio planejado. Ao contrário do que pensava antes, a utilização de ferramentas de suporte em mídia digital não tolhera meus pensamentos nem atrofiara meus neurônios. Ainda posso me desligar dela e ter comportamentos de pessoa antiquada, integrante ainda do ramo jornalístico arcaico, tradicional.

Todavia, e isto é importantíssimo, o ato de escrever mensagens com vaga e inarredável feição de relatos pessoais ou subjetivados é algo assim perigoso para o profissionalismo da comunicação social. Daqui por diante nós que trabalhamos com isto temos de estar a nos preparar cotidiana e disciplinadamente para a revolução dos media. Uma informação atual o será por frações de segundos por causa da veloz transcrição aqui na rede mundial de computadores.

A mensagem é o meio e vice-versa. (Dizem os teóricos da "mass comunication"; no que concordo e comprovo.) Se a Internet é o caminho para suprir a vontade de saber dos espectantes internautas e se o número deles aumenta paulatinamente, prevemos a presença de escritores virtuais de notícias para leitores também fictícios de acontecimentos. Vão haver dois mundos, então: o dos seres ainda reais, que praticam a existência e os fatos ou valores notícia; e, d'outro lado, o dos seres irreais, que apenas acompanham a vida de outros (em própria essência) e filtram para si as novidades que lhes fazem satisfação. Nós, agora, estamos ainda numa fase intermediária em que há um terceiro tipo (o qual pode continuar ou não a haver depois) que é o dos "biociborgs", ou seja: temos as duas fases - mecânica e física - a um só instante. Que será de nós é o complexo agora a decifrar ou decodificar.
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