Blog liberto a público de arte abstrata-concreta, literatura mundana, jornalismo experimental e direito cotidiano. ¡Pensare reactivus est!

sábado, 10 de fevereiro de 2007

Maiakovskianamente falando...



A Esperança

Injeta sangue
no meu coração,
enche-me até o bordo das veias!
Mete-me no crânio pensamentos!
Não vivi até o fim o meu bocado terrestre ,
sobre a terra
não vivi o meu bocado de amor.
Eu era gigante de porte,
mas para que este tamanho?
Para tal trabalho basta uma polegada.
Com um toco de pena, eu rabiscava papel,
num canto do quarto, encolhido,
como um par de óculos dobrado dentro do estojo.
Mas tudo que quiserdes eu farei de graça:
esfregar,
lavar,
escovar,
flanar,
montar guarda.
Posso, se vos agradar,
servir-vos de porteiro.
Há, entre vós, bastante porteiros?
Eu era um tipo alegre,
mas que fazer da alegria,
quando a dor é um rio sem vau?
Em nossos dias,
se os dentes vos mostrarem
não é senão para vos morder
ou dilacerar.
O que quer que aconteça,
nas aflições,
pesar...
Chamai-me!
Um sujeito engraçado pode ser útil.
Eu vos proporei charadas, hipérboles
e alegorias,
malabares dar-vos-ei
em versos.
Eu amei...
mas é melhor não mexer nisso.
Te sentes mal?
Tanto pior...
Gosta-se, afinal, da própria dor.
Vejamos... Amo também os bichos -
vós os criais,
em vossos parques?
Pois, tomai-me para guarda dos bichos.
Gosto deles.
Basta-me ver um desses cães vadios,
como aquele de junto à padaria,
um verdadeiro vira-lata!
e no entanto,
por ele,
arrancaria meu próprio fígado:
Toma, querido, sem cerimônia, come!

(Maiacovski)

O homem e sua medida!

Um homem não é só as roupas que veste ou as palavras que verbaliza; é muito além disto! Um homem não é só uma pilha de etiquetas e nem um conjunto criptográfico, tampouco uma lista de números e, menos ainda, uma coletânea de adjetivos adverbiadamente ditos acerca dele!

Um homem não é um nome, não é um tal episódio de livro, não é um trecho de partitura, não é um apelido artístico; vulnerável é o homem a umas poucas categorizações conceituais: um gesto, uma característica da personalidade, uma vontade de potência vocacionada! É isto que ele é!

Não reflitais vós qüão palpável, factível ou verossímil seja o homem; pensais apenas
no para que ele possa vir a intentar querer ser...no quanto ele deseje estar a ter como fazer...no que ele idealiza e realizável o é.

A invenção do homem se faz à medida em que ele pensa sobre si próprio, por si mesmo, consigo para com outrem - o qual, o entendendo e decodificando a expressão íntima alheia, possível torna a verdade: o homem só é por haver o outro homem que o valida e aceita sua é-xistência. Isso é filosófico? A mim, não; me aparenta ser senso comum, redundando o óbvio argumento declinado pauperrimamente aí sobre.

31/01/2007 # 01/02/2007
João Paulo Santos Mourão

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quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Ecos e cantados carnavalescos nobres

O Quadro: Meio de samba, meta de breque

Ah, boêmia: sapiência, se tua escola não fosse de samba
As feições do "traje" não seriam de malandros.
Eh, madrugar de dia, em lua de gala; tão classe de camba
Nas missões da laje, mãos tremiam por melindros.

O ensino mundano tá aí por fidalguia;
Quem bem soube decorou até a melodia.
E menino mudando, há sim: porre de guia;
Aquém, sem plebe, refinou (né) a companhia.

Oh, boêmia: decência, em rua esmola qüão desce de tomba
Às canções que na "viajè" vão; cresciam os ditirambos!
Ih, recordar da via, em sua degola; grão passe de bamba
Traz lições como de hoje, cãos ladrariam, forjei mambos.

O casino montano há ali por picardia;
Além tem rouge, convidou balé a senhoria.
O traquino beijando, à gim morre, desfia;
Alguém, nem bebe, retragou (fé) ao que se (r)ia.

[To juro, Noel, avalia: o morro viverá outro dia!
Garanto: Chiquinha, a marchinha no cravo teclaria!]

João Paulo Santos Mourão
02/02/2007
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