Deus e o Diabo na Terra do Sol - resenha crítica do filmeDeus e o Diabo na Terra do Sol de 1964 é a mais louca razão, o menos quieto choque, um ponto-destaque na cinematologia brasileira. Ali, efetivamente, começa a despertar e a expandir o movimento de cinema denominado "novo", em relação ao qual inicia-se uma independentização das matérias produtivas, um libertar dos limitados formatos, empirismo e atitude teorética engendrando inovadoras práticas.
Todo o monumento é novidade: as gravações sem cortes ou correção das cenas, a composição dos personagens, o inserir dos figurantes, a paisagem dos sets para filmagem, ambientação, figurino; isso só para comentar as imagens! Junto a isto, reinventam-se as maneiras de musicar e dialogar sobre as gravações: todo o roteiro - as conversas, pensamentos e letras melódicas vêm do genial meio instinto meia consciência glauberiana.
Corisco, Rosa, Manuel, Sebastião, Antônio das Mortes... criaturas sobrelevadas da arte cênica, captados magnitude e essência de cada intérprete, dão termo ao velho cinema de textos marcados e gestos premeditados; qualquer sentimento espontâneo, toda manifestação teatralística emotivada ali e então já completaria o motivo de amoldar-se aí agora ao diferente atuar dos atores e atrizes, à sorte de latentes improvisos.
O sertão mundo virar mar, o oceano mutar em descampado árido; as idéias do pobre chegarem à realidade, os desideratos dos ricos tornarem à imaginação mixuruca. A proposição envolvida é a coragem de revoltar-se e convergir do povo à revolução ante as reprimendas: sejam elas religiosas, econômicas ou políticas.
O sabre, a espingarda, a cruz - alguns símbolos influentes em quase todas as passagens. O diabo louro, o deus negro e o justiceiro, matador de cangaceiro: alegorias componentes do perfil de sol-a-sol cantado e violado pelo cego retirante nordestino.
JotaPê
Deus e o Diabo na Terra do Sol
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